O socorro chega, mas em geral chega tarde demais. O governo
italiano, junto com a Guarda Costeira, faz o esforço de resgatar os fugitivos
da pobreza e da violência. Falta, porém, o apoio efetivo dos outros países da
União Européia. Enquanto os debates prosseguem no parlamento de Bruxelas, as
embarcações continuam enfrentando as águas do Mediterrâneo, tentando alcançar
as margens da Ilha de Lampedusa. Frágeis e improvisadas, nem todas conseguem
superar a travessia. Às dezenas e centenas, os refugiados e prófugos são
atirados ao mar, sendo engolidos pelas ondas bravias. Acumulam-se os mortos
anônimos nesse estranho cemitério de migrantes.
E a pergunta mil vezes repetida, sempre incomoda e
indigesta, levanta novamente o clamor já conhecido e notório: até quando esse
massacre silencioso e silenciado? Até quando a guerra e a miséria seguirão
desenraizando e expulsando os filhos e filhas de suas terras de origem? Até quando
a comunidade internacional, especialmente a ONU e a ACNUR, limitar-se-á a
discursos diplomáticos e promessas imcumpridas? E a sociedade civil, em suas
mais diversas organizações, até quando assistirá de braços cruzados? Nas
palavras do Papa Francisco, prevalece a “globalização da indiferença”.
Na medida em que a “primavera árabe” se converte num verão
calcinante e desértico, na África subsaariana, ou no verão de fogo dos países
conflagrados por conflitos armados do mesmo continente africano e do Oriente
Médio (Síria, Iraque, Nigéria, Somália, Tunísia, etc.), continuará o processo
de migração em massa em direção à Europa. Com isso, regiões em situação de
risco e vulnerabilidade, histórica e estruturalmente, acabam golpeadas tanto
por condições adversas de existência quanto por fanatismos religiosos e
ideológicos totalitários e inconsequentes. Disso resulta o medo e a fome, o
desespero e a fuga.
Além do mar Mediterrâneo, idêntico SOS dissemina-se hoje por
todo o globo terrestre. No mundo inteiro, cresce o volume de pessoas e famílias
que se deslocam de um lado para outro. Diferentemente das migrações históricas,
entretanto, aqui não se tratam de movimentos migratórios com origem e destino
mais ou menos determinados. Não se trata de arrancar a planta da própria terra
natal e, de maneira definitiva, fixar-lhe as raízes num outro lugar. Mais do
que uma transplantação, o vaivém dos migrantes atualmente tornou-se mais
complexo e caótico, chegando ao ponto de não mais se saber o ponto de partida e
de chegada de muitos fluxos de migrantes. As pessoas tendem a migrar e
remigrar, continuando a buscar a sorte num solo que possa ser chamado de
pátria.
Por outro lado, devido ao aumento da violência em suas
distintas formas, cresce em proporção bem mais grave o número de refugiados,
prófugos e “desplazados”. Conflitos intestinos ou guerras civis estão por trás
de não poucos deslocamentos compulsórios. Neste caso, nos defrontamos com o
tipo de migração mais dramática, pois os envolvidos em tais movimentos, sob
pena de perseguição e morte, “não podem voltar atrás”. A vida e o sonho de
futuro estão na frente e é preciso caminhar.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
Roma, 20 de abril de 2015
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