E essa volta começa com a
imprescindível canção de Geraldo Vandré, do tempo da outra ditadura. Vem, vamos embora que esperar não é saber.
Quem sabe faz a hora não espera
acontecer”. Sim digo outra, a de 1964, porque hoje vivemos outra muito
pior. A do estado de exceção, o retorno do fascismo e neonazismo. Uma
contagiante Mística Francisclariana nos levou a entrar no processo com cheiro
de Paz e Bem. Com grande participação, das Franciscanas e Franciscanos do
Brasil esteve reunida em Aparecida/SP, de 03 a 06 de agosto, para fazer
acontecer o chamado Capítulo Nacional da Esteiras 2017, promovido pela
Conferência da Família Franciscana do Brasil, cujo tema foi: “Levar ao Mundo a Misericórdia de Deus”, e o
lema: “ É preciso voltar a Assis”. No ano em que celebramos 300 anos da
Aparição da nossa Mãe Negra, nas águas do Rio paraíba, muito temos inda a
aprender.
Com a graça de Deus, pudemos
estar presentes, nós irmãs: Dorvalina, Romilde, Alzira e
Irdes. Foram dias de
encontros e reencontros. De reaquecer os corações com a esperança, a fé, o amor
e a misericórdia de Deus, que perpassou por cada participante.
Como levar ao mundo a
Misericórdia de Deus, neste tempo em que vivemos num mundo sob medidas, onde o
dinheiro é que governa? Como bem nos alerta o Papa Francisco. Temos neste tempo
um novo bezerro de ouro: o Deus Mercado e suas
relações pautadas pelas medidas
da razão científica e instrumental, que explora, oprime e mata. Porém, a
experiência histórica do povo de Deus, nos ensina a redescobrir o Rosto Misericordioso
de Deus. Este Deus que acreditamos é aquele que se aproxima, atende, escuta,
protege, acompanha e caminha junto, porque somos seres de ralações Não é o Deus
retribuição que cremos, este do mercado, mas o da Misericórdia. Mas o que é a Misericórdia
Francisclariana? Esta traz em sua origem a sobriedade de Francisco. Ao se
desencantar com a nobreza do seu tempo, deixou-se conduzir pelo silêncio, e foi
então que o “próprio Senhor, o levou no
meio os leprosos”. Vive grande conflitos com o pai, provoca uma ruptura
radical, tira as vestes escravocantes, sofre dores de parto, mas segue, tendo
Clara como conselheira, e esta o ajuda no processo de conversão: “ Parecia-me muito amargo, viver com os
leprosos”. Mas o Senhor me levou no meio deles e eu fiz Misericórdia com eles”.
No tempo em que viveu como os leprosos, faz o processo da conversão: “o que era amargo, se tornou doce como o
mel”. Porque Misericórdia é modo de vida, é decisão. Não é sentimentoapenas. É afetividade que se deixa afetar. Para Francisco o processo fundamental de iniciação para a mudança, para a conversão, se deu com uma experiência contrastante. Sair do mundo dos nobres e viver o mundo dos leprosos, os mais pobres e excluídos do seu tempo.
A pergunta que nos instiga: E
hoje? Onde e como fazemos nossos processos de iniciação à Vida Religiosa
Consagrada?
Viver a Misericórdia é ainda
uma relação justa com todas as criaturas. Não fazemos votos de pobreza, mas de
não apropriação. Por isso não pode haver hierarquias, porque o poder é
circular, provisório. E no nível de iguais, precisamos confraternizar com todas
as criaturas. Francisco não faz obras para os pobres. Viveu com e como eles.
Hoje para quem vive a Mística e Espiritualidade Francisclariana, a realidade
exige sair do mundo, isto é: sair do sistema capitalista/consumista. Construir
alternativas. Num mundo onde 8% das pessoas possuem mais que metade dos bens da
humanidade toda, aumentando assustadoramente a miséria no mundo, é urgente
entender que pobreza é consequência, é que, portanto, só seremos fiéis se
escutarmos o grito da Mãe terra e dos irmãos e irmãs empobrecidas. O CUIDADO é
o novo paradigma.
Francisco
foi o homem reconciliado do seu tempo, pois devota a mesma ternura e amor à
natureza e as pessoas. Entende e nos ensina que tudo está interligado. Hoje é
urgente compreendermos que não existe misericórdia, sem reconciliação com o
planeta, nossa casa comum. O Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si, nos
convida a superarmos o antropocentrismo. Nesta lógica só 20% das pessoas no
mundo são as que destroem a natureza, porque fazem dela o seu quintal. Só a
misericórdia pode nos reconciliar e transformar. Este processo de conversão se
for verdadeiro, nos leva inevitavelmente a contemplar o mundo a partir de
dentro, e aí iremos compreender e nos comprometer, tanto ontem como hoje: “não
ter trabalho, salario, casa, terra, água, saúde, educação, enfim os direitos, é
um atentado contra a dignidade das pessoas.
Fomos
agraciadas também com uma brilhante e provocativa reflexão quanto aos 300 anos
da aparição de Nossa Senhora Aparecida.
Essa imagem negra encontrada no Rio Paraíba evoca o resgate dos direitos à
vida, especialmente o da comida. Lembra a história que enquanto os pescadores
jogavam a rede para que os peixes pescados fossem usados para preparar o
banquete ao Conde de Assumar, este sujeito que fez uma extrema repressão aos
quilombos da época, eles jogavam a rede e nenhum peixe subia. Mas, só quando as
redes resgataram da límpida água a Mulher
Negra, com a cabeça quebrada, é que a pesca veio farta. Peixes com fartura!
Agora sim, a Mãe ensina que sem
escravidão há fartura de bens para o povo. E esta pesca foi partilhada para com
quem dela tinham direito e necessidade, ou seja, os pescadores, seus familiares
e amigos. Não, nada de peixes ao opressor Conde e seus protegidos. A Mulher Negra
inverte a lógica da concentração, para a da partilha solidária. Viva a Mãe de Deus e nossa, que “despede os ricos de mão vazias e sacia os
famintos de bens”.
Por
isso, afirmamos no hoje da história, iluminadas/os, mais uma vez pela Encíclica
do Papa Francisco, a Laudato Si, que nosso
Claustro é o Mundo. Vivemos uma situação extremamente grave. O clima da Mãe
Terra está sendo alterado rápida e profundamente. O modo de produção e consumo,
está levando a ameaça toda a comunidade de vida. A crise é complexa e global. A
nível internacional, acompanhamos a destruição das garantias democráticas. A
nível de Brasil, sofremos dioturnamente ataques, com a destruição das políticas
públicas, conquistadas ao longo de anos de organização e lutas. As chamadas commodities, (café, açucar, soja,
trigo, ouro, petróleo e outros minérios, produzido para o comércio exterior) tomam
de volta só para elas os bens que são direitos coletivos e patrimônio da
humanidade. Ao povo miséria, fome, sede, doenças e morte prematura. Não dá para
remediar, porque tudo está interligado, imbricado. Então, precisamos escolher
um lado, pois Deus que é Deus também fez a escolha ao lado da vida que está
ameaçada, violentada, destruída. Em meio a tantos ataques, sustentados também
pelos interesses internacionais, para destruí as garantias democráticas, onde o
que importa é a obsolescência programada,
pois tudo é feito para logo estragar, jogar fora, e assim adquirir sempre o
último lançamento, se faz urgente reconstruíramos um forte Movimento Social. Só
uma forte e articulada reorganização popular, poderá mudar este rumo
desastroso.
“Irmãs,
irmãos: recomecemos porque até agora pouco ou nada fizemos”.
São
Francisco de Assis.
Na
ternura sororal, Ir. Irdes Lúcia Guadagnin
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